Marshall
cresceu no subúrbio londrino de Clapham e foi educado na Merchant
Taylor’s School onde demonstrou aptidão para a matemática. Apesar
de ter demonstrado interesse em tornar-se ministro da Igreja
anglicana, sua trajetória bem sucedida na Universidade de Cambridge
o levou a tomar a decisão de seguir uma carreira acadêmica.
Tornou-se professor em 1868, especializando-se em economia política.
Ele desejava melhorar o rigor matemático da teoria econômica e
transformá-la numa disciplina mais científica. No anos 1870, ele
escreveu um pequeno número de trabalhos sobre o comércio
internacional e os problemas do protecionismo. Em 1879, muitos destes
textos forma compilados em uma obra intitulada A Teoria Pura do
Comércio Exterior e A Teoria Pura dos Valores Domésticos (The Pure
Theory of Foreign Trade: The Pure Theory of Domestic Values). No
mesmo ano, publicou em conjunto com sua mulher, Mary Payley Marshall,
a Economia da Indústria (The Economics of Industry).
Em
Cambridge, Alfred fora professor de economia política de Mary
Payley, uma das primeiras mulheres inglesas a alcançar o grau
universitário. Os dois casaram-se em 1877, forçando Marshall a
abandonar seu posto em Cambridge em razão das regras daquela
universidade sobre o celibato. Ele tornou-se diretor do University
College, em Bristol, lecionando novamente sobre economia política.
Aperfeiçoou seu Economia da Indústria e o publicou em 1879 como um
manual para uso dos estudantes de economia; sua aparência simples
apoiava-se sobre fundamentos teóricos sofisticados. Marshall
alcançou certa fama com seu trabalho e, após a morte de William
Jevons em 1881, tornou-se o mais influente economista britânico de
seu tempo.
Em
dezembro de 1884, após a morte de Henry Fawcett, Marshall retornou a
Cambridge, como professor de economia política. Ali, ele procurou
criar uma nova forma para a economia, o que só conseguiu em 1903.
Até então, a economia era ensinada sob os tipos de Ciências Morais
e Históricas, que não propiciavam a Marshall o tipo de estudante –
ativo e especializado – que ele desejava.
Marshall
começou a trabalhar em sua obra seminal, os Princípios de Economia
(Principles of Economics), em 1881 e consumiu boa parte da década
seguinte trabalhando em seu tratado. O seu plano para a obra
gradualmente se estendeu para uma compilação em dois volumes de
todo o pensamento econômico; o primeiro volume foi publicado em 1890
sendo aclamado mundialmente, o que o colocou entre os principais
economistas de seu tempo.
Nas
duas décadas seguintes, ele trabalhou para completar o segundo
volume dos Princípios, que deveria tratar do comércio
internacional, do dinheiro, das flutuações comerciais, dos impostos
e do coletivismo. Mas sua atenção obstinada aos detalhes e seu
perfeccionismo o impediram de dar conta do fôlego da obra. O segundo
volume nunca foi completado e muitas outras obras de menor vulto nas
quais ele começara a trabalhar – por exemplo, um memorando sobre
política comercial para o ministro inglês das finanças (o
Chancellor of the Exchequer) na década de 1890 – foram deixadas
incompletas pela mesma razão.
Seus
problemas de saúde foram se agravando gradualmente a partir dos anos
1880. Em 1908 ele se aposentou da universidade. Ele esperava
continuar trabalhando em seus Princípios, mas sua saúde continuou a
deteriorar e o projeto continuou a crescer a cada nova investigação.
A explosão da Primeira Guerra Mundial em 1914 o impeliu a revisar
suas análises da economia internacional. Em 1919, aos 77 anos de
idade, ele publicou Indústria e Comércio (Industry and Trade). Esta
obra era um tratado mais empírico que os Princípios e, por esta
razão, não alcançou tantos elogios de economistas teóricos quanto
aquele. Em 1923, ele publicou Moeda, Crédito e Comércio (Money,
Credit, and Commerce) um amplo amálgama de ideias econômicas
anteriores, inéditas ou já publicadas, estendendo-se a quase meio
século.
Marshall
faleceu em sua casa, Balliol Croft, em Cambridge (Inglaterra) aos 81
anos de idade.
De
1890 a 1924 ele foi o fundador respeitado da profissão econômica.
Seus alunos em Cambridge tornaram-se figuras proeminentes na
economia, como John Maynard Keynes e Arthur Cecil Pigou. Seu mais
importante legado foi criar para os futuros economistas uma profissão
respeitada, acadêmica e cientificamente, dando o tom daquela área
pelo restante do século XX.
Contribuições
Teóricas
A
economia de Marshall pode ser entendida como uma continuação do
trabalho de John Stuart Mill, Adam Smith, e David Ricardo. Ele
minimizou a importância da contribuição de outros economistas a
sua obra, tais como Vilfredo Pareto e Jules Dupuit, e só com
relutância reconheceu a influência de William Stanley Jevons.
O
método de Marshall, o qual influenciou boa parte dos economistas
ingleses posteriores, consistia em utilizar a Matemática aplicada
como meio de investigação e análise de fenômenos econômicos, e o
raciocínio lógico e as aplicações práticas (isto é, a aplicação
a partir de fatos reais) como meio de exposição desses mesmos
fenômenos. Assim, considera-se que seu método analítico-matemático
foi uma de suas maiores contribuições para a moderna Ciência
Econômica.
A
introdução do elemento tempo, por Marshall, na teoria econômica
conseguiu unir as duas mais fortes e antônimas teorias, de sua
época, sobre o valor.
Segundo
a Economia Política Clássica, o valor é agregado pelo trabalho no
processo de produção; é, por conseguinte, o custo de produção.
Por outro lado, a Escola Marginalista entendia o valor de uma
mercadoria através da capacidade da mesma em satisfazer necessidades
humanas, sendo definida pela utilidade marginal.
Com
a introdução do fator tempo, na distinção entre longos períodos
e curtos períodos, Marshall conseguiu determinar a importância
tanto do custo de produção (para longos períodos) como da
utilidade marginal (para curtos períodos), na formação do valor
das mercadorias.
Todos
os textos de Economia anteriores a Marshall referem-se à matéria
tratando-a de “economia política” (political economy). Marshall,
embora se opusesse ao conceito de homo economicus, por considerá-lo
excessivamente simplificador, e procure considerar o indivíduo
enquanto agente econômico sempre inserido num determinado contexto
sociocultural, abandonou essa denominação e passou a se utilizar da
expressão “economia” (economics).
Nesse
sentido, como afirma Ricardo Feijó, Marshall representou um marco
institucional na história da moderna Economia. Introduziu o nome
Economics em substituição ao anterior Political economy, para
designar o novo estilo de se fazer ciência econômica; fundou o
primeiro curso especializado de Economia e seu livro de 1890,
Princípios de economia, foi o principal manual dessa disciplina por
mais de 30 anos.
De
fato, ainda segundo Ricardo Feijó, antes de Marshall, em Cambridge a
Economia era ensinada apenas como parte das ciências históricas e
morais, e não era objeto de trabalhos mais avançados. Marshall fez
da Economia uma profissão. Durante muitos anos ele lutou, nem sempre
com sucesso, para ampliar o âmbito da Economia, e só em 1903
inaugurou-se um novo curso especializado em Economia, o primeiro
curso exclusivamente dedicado à formação do profissional nesse
campo de que se tem notícia (Na verdade, a nova escola de Economia
de Cambridge intitula-se “Economia e Política”, conservando esse
nome até hoje. Como indica o nome da escola, trata-se de
especialização também em Ciências Políticas). Com ele, tal
ciência (a Economia) adquire o status de saber autônomo
cientificamente qualificado, uma área técnica repleta de conceitos
não acessíveis ao não iniciado.
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